As gêmeas siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora foram separadas após cinco procedimentos cirúrgicos.
“Um dia de alegria que marca a história do hospital”, escreveu a equipe médica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto junto com a imagem das gêmeas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, no colo dos pais.
O motivo de tanta alegria é o bem-sucedido desfecho de separação das gêmeas que nasceram grudadas pelo topo da cabeça. Trata-se de um caso inédito na história da medicina brasileira e na América Latina a respeito do procedimento que é chamado de separação de gêmeos craniópagos.
Para entender a raridade do caso, uma entre dois milhões de crianças nascem unidas pela cabeça, de acordo com o Prof. Dr. Hélio Machado, chefe da equipe responsável pela operação. E a chance de ambas as crianças sobreviverem quase sempre é muito pequena.
Para realizar a separação, Machado reuniu uma equipe multidisciplinar com mais de 40 pessoas, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
“Para esse tipo de cirurgia, o método mais seguro para esse tipo de cirurgia é fazê-lo em diferentes etapas”, conta ele sobre o procedimento que começou em fevereiro deste ano.
Para auxiliar no procedimento inédito em terras brasileiras, Machado contou com a ajuda do neurocirurgião norte-americano James Goodrich, referência mundial no assunto que acompanhou as cirurgias das siamesas desde o planejamento. Goodrich trouxe a bagagem de outras dez cirurgias do mesmo porte e algumas modelagens em 3D para auxiliar na preparação para os procedimentos.
“O planejamento foi tão extenso e sofisticado que, antes do procedimento em si, a equipe já havia feito a operação por meio de simulação, utilizando essa tecnologia de modelos de impressão 3D”, explica Machado.
Além dos exemplares trazidos por Goodrich, a equipe de Hélio contou também com a tecnologia desenvolvida por outras áreas de atuação dentro do campus da USP de Ribeirão.
Com o sucesso do procedimento inédito, o HC de Ribeirão se torna referência no assunto e pode dar um novo rumo para a medicina brasileira. “Acredito que, por nós termos feito pela primeira vez de forma bem sucedida na América Latina, essa experiência adquirida pode contribuir para que o Hospital seja no futuro um centro de consulta, e local para até novas cirurgias”, salienta Jayme Adriano Sarina Jr., chefe da divisão de cirurgia plástica do HC de Ribeirão.
Sarina é responsável pelo processo pós-cirúrgico, a fim de que haja uma cicatrização adequada, para que o cérebro não fique exposto. Enquanto a Maria Ysadora não requer que sua ferida seja coberta, Ysabelle ainda precisa de uma enxertia na nuca.
Após meses de incerteza sobre o futuro de suas filhas e até mesmo sobre a possibilidade de ter que escolher pela sobrevivência de uma delas, o pai Diego Farias comemora. “Time nota 1.000. Logo, logo, Maria Ysadora e Maria Ysabelle vão poder agradecer a todos com um abraço”.