Mário Soler, 62 anos, “caipira” da pequenina Ida Iolanda, é um dos mais respeitados jornalistas do interior paulista. No sábado, 29 de julho, ele lançou o livro “Caminhos do futuro”, sobre a administração Edinho Araujo, que tinha 26 anos quando foi eleito prefeito de Santa Fé do Sul.
Soler tem todas as credenciais para recompor a trajetória do atual prefeito de São José do Rio Preto, Jornalista formado pela Casper Libero,, com mestrado em Comunicação Social pela Unesp-Bauru,o autor exerceu cargos de chefia em publicações como Dia e Noite, Diário da Região, Folha de Rio Preto, TV Globo Noroeste Paulista e SBT. Já escreveu outros quatro livros, um dos quais de crônicas, duas biografias e sua tese na Unesp. Ele foi ouvido pelo Jornal de Jales sobre o livro recém-lançado. (D.R.J.).
J. J. – De que trata esse livro?
Mário Soler – O livro é focado na gestão do jovem prefeito Edinho Araújo, empossado na Prefeitura de Santa Fé do Sul em 1977, e resgata um período de quase sete anos marcado pelo progresso e desenvolvimento. A cidade vivia um dilema devido a uma série de problemas de infraestrutura urbana – como a erosão urbana e a falta de acessos viários – aliada à necessidade de mudança de perfil, partindo de uma economia baseada na produção das 3.500 pequenas propriedades rurais para se firmar como polo regional de comércio, lazer e serviços, dando também os primeiros passos no processo de industrialização. Chama a atenção a forte atuação de um grupo de jovens estudantes, liderados por Edinho, com um papel decisivo na mudança de patamar da cidade, hoje Estância Turística e reconhecida como uma das melhores para se viver no interior. Eles vinham com novas ideias e muita disposição para mudar. E isso ficou nítido ao final do governo, e deu tão certo que o jovem prefeito virou líder regional e deu um salto na carreira política conquistando inicialmente uma suplência em 1982 e logo depois a vaga de deputado estadual pelo PMDB.
J. J. – Quanto tempo você levou para concluí-lo?
Mário Soler – A ideia de registrar esse período em livro surgiu em 2009, mas ficou um bom tempo na gaveta. Convidado pelo jornalista Zeca Moreira fui incumbido de organizar o arquivo de documentos e fotos da carreira de Edinho Araújo, junto com os colegas Moisés Jr e Fabrício Spatti. Notamos que o farto material histórico ficaria restrito apenas ao arquivo pessoal do político e decidimos publicá-lo. Daí, surgiram três livros – “38 anos na estrada”, uma passagem geral pela carreira de Edinho e sua vida familiar; “Rio Preto de coração”, mostrando sua relação de 15 anos com a maior cidade da nossa região; e agora “Os caminhos do futuro”, que conta o começo dessa aventura. Neste último livro nossa equipe investiu três anos de trabalho, porque fazíamos a maior parte da pesquisa, produção e separação de fotos e documentos nos momentos de folga, já que continuávamos na assessoria de Edinho. A maioria dos textos eu escrevi de madrugada e nos fins de semana.
J. J. – Quais foram as fontes que subsidiaram as suas pesquisas?
Mário Soler – Um pouco de tudo, mas as grandes fontes foram os jornais regionais, entre os quais “O Jornal de Santa Fé” e o “Jornal de Jales”. Fiz entrevistas com ex-colaboradores do governo e tive acesso a documentos antigos que estavam acondicionados em sacos de estopa, guardados em quartos de despejo. Num desses sacos encontrei documentos originais preciosos, como o primeiro discurso do político, que está logo na abertura do livro, e a agenda do primeiro dia de trabalho do novo prefeito, além da portaria nomeando o profeta Aparecidão como jardineiro da Prefeitura. Iniciei contatos com o jornalista e advogado Alcides Silva para aprofundar a pesquisa, uma vez que ele acompanhou de perto a gestão de Edinho. Mas infelizmente ele faleceu em dezembro de 2013. Dediquei este livro a ele.
J. J. – Em que medida o trabalho de Edinho como prefeito de Santa Fé do Sul aplainou o caminho para sua carreira?
Mário Soler – Foi determinante para o sucesso dele como político. A gestão de Edinho Araújo despertou atenção, inicialmente, por ser ele um dos mais jovens prefeitos do Brasil. O trabalho intenso e a criatividade da equipe logo foram notados. O prefeito mantinha uma assessoria de imprensa que enviava para jornais e TVs notícias e fotos dos principais atos do prefeito.
J. J. – Há alguma semelhança entre o Edinho prefeito de Santa Fé o Edinho três vezes prefeito de São José do Rio Preto?
Mário Soler – Sim, a obsessão pelo trabalho, em primeiro lugar. Em segundo lugar, tratar a cidade como uma extensão da casa dele. Edinho odeia ver canteiros e guias com mato, vias esburacadas e pintura de solo mal feita. Isso vem desde Santa Fé, quando ele se levantava bem cedo para visitar obras, ver a distribuição do serviço na prefeitura e dar entrevistas aos locutores de rádio antes do sol raiar. Em Rio Preto ele continua madrugando para fazer visita surpresa a obras em andamento e vistoriar a cidade. Anota todas as queixas que ouve de munícipes e cobra solução dos auxiliares. Como ele mesmo diz, o que mais gosta de fazer é “prefeitar”.
J. J. – Em sua avaliação, qual foi a maior realização de Edinho como prefeito de Santa Fé?
Mário Soler – Creio que foi o conjunto da obra, com realizações importantes que sedimentaram as bases para tonar Santa Fé uma cidade turística, polo estudantil e cultural. Houve uma revolução urbanística, com asfaltamento de vias tomadas pela erosão, a abertura do principal acesso da cidade à rodovia Euclides da Cunha, que implicou na polêmica remoção de parte do cemitério municipal, e a canalização do Córrego da Mula, que era uma dor de cabeça para os administradores. Uma parceria com o SESC rendeu Santa Fé o título de primeira Cidade Lazer da América Latina, com intensa programação educativa, de inclusão, lazer e esportes. O prefeito evitou o fechamento da única faculdade santafessulense, a Asec, que sobreviveu, prosperou e é a Funec que conhecemos hoje.
Edinho gostava de fazer o marketing de seu governo e da cidade…?
Mário Soler – Sim. Edinho colocou Santa Fé do Sul em evidência ao trazer para a cidade, em 1979, a gravação do filme “Estrada da Vida”, de Nelson Pereira dos Santos, baseado na trajetória da dupla Milionário e José Rico. O próprio Edinho foi ator do filme, interpretando um prefeito aturdido com o atraso da dupla para um show. Grandes jornais como Estadão, Folha de São Paulo e Jornal da Tarde deram a notícia. “Estrada da Vida” projetou a cidade e foi exibido até na China.