Franquias miram cidades do interior e avançam além do Sul e do Sudeste.
A interiorização de franquias é uma tendência que ganhou força nos últimos anos. Um estudo da ABF (Associação Brasileira de Franchising) mostra que, das 11 cidades que mais avançaram em números de unidades inauguradas no primeiro semestre de 2018, sete não são capitais: Campinas, Santo André, São Bernardo do Campo, São José do Rio Preto, Sorocaba e Guarulhos (SP) e Niterói (RJ).
O crescimento se deve também à inauguração de shoppings nessas regiões. De acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), 78% das aberturas entre 2017 e o primeiro semestre de 2018 foram fora de capitais, e 61,1% ocorreram nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Para garantir a aceitação em outros estados e municípios, em 2006, os donos da rede de restaurantes São Paulo I tomaram uma decisão arriscada: depois de duas décadas construindo e fortalecendo a marca, abriram mão do nome, já bem conhecido pelo público paulista. Virou Divino Fogão.
“Começamos a ser procurados por gente do interior. A primeira cidade fora de São Paulo foi Campina Grande, na Paraíba. Não tinha como ir para esses lugares com o nome São Paulo I, porque íamos esbarrar em bairrismos. Não dava para arriscar”, diz Reinaldo Varela, presidente e fundador da marca. “No Rio, por exemplo, só houve interesse depois da mudança de nome.”
A decisão foi acertada: o número de unidades passou de 50 para 184 em uma década. Dessas, 88 ficam no interior do Brasil e respondem por 40% do faturamento da rede.
Mesmo marcas que não se baseiam em shoppings já perceberam essa demanda e se preparam para atendê-la.
Um exemplo é a GiOlaser,clínica de estética criada pela atriz Giovana Antonelli e recentemente comprada pela Sorridents. A marca, com apenas 13 lojas, tem no interior sua melhor performance.
“A demanda dessas localidades é maior e a concorrência é menor”, diz Sergio Henrique Oliveira, diretor de operações. Por isso, segundo ele, o desempenho das lojas é diferenciado, comparado a outras regiões do país. “Estamos falando de um faturamento que pode chegar a 30% a mais em comparação com as capitais”.
Em Betim, cidade de Minas Gerais com cerca de 370 mil habitantes, a clínica aberta há um ano responde pelo maior faturamento da rede. “É um case de sucesso”, diz Oliveira.
Serão abertas mais cinco unidades neste ano, todas em São Paulo: quatro na capital e uma na Praia Grande.
Para o ano que vem, já foram fechados 25 contratos, e a meta é chegar a 50 inaugurações por ano, em cidades com mais de 100 mil habitantes.
Para Renato Ticoulat, diretor da rede de limpeza de ambientes comerciais Jan-Pro, esse crescimento também está ligado à urbanização de cidades menores.
“Vendemos uma franquia em Campinas há cinco anos, e o diretor de lá resolveu ir para municípios do entorno. Há cerca de um ano, fechou negócio em Porto Feliz e Nova Odessa, cidades com 50 mil a 70 mil habitantes, e desenvolveu franqueados em cada uma delas. Hoje, o faturamento anual dessa região é de R$ 6 milhões”, afirma Ticoulat.
Para dar o suporte adequado e poder expandir, a marca precisa criar escritórios regionais, como o de Campinas. O próximo na fila é o de Ribeirão Preto, que tem atualmente 15 contratos.
Lá, o franqueado Douglas Corrêa, 31, já delineia os próximos passos, depois de apenas nove meses atuando.
“A demanda aqui é muito alta. Eu me assustei um pouco no começo, porque o crescimento foi muito rápido”, afirma.
O investimento inicial já foi pago, segundo Corrêa. A meta para faturamento até o final do ano é R$ 2 milhões –um valor que está próximo de ser alcançado, adianta.
Esses resultados não são surpresa para quem fez o caminho inverso, como a rede de restaurantes Água Doce, que surgiu em Tupã, interior de São Paulo. “O interior está no DNA da empresa, tanto no posicionamento da marca quanto na criação do produto”, afirma o diretor de franquias Julio Bertolucci.
“Para nós, a capital era o nicho. O nível de concorrência é maior, o investimento em divulgação tem que ser alto. O que a gente entendeu? Cidade menor, custo de ocupação menor”, diz Bertolucci.
A rede de restaurantes Jin Jin também começou no interior, e hoje se prepara para voltar às origens. Com 35% das lojas instaladas em municípios menores e uma presença maciça em shoppings das principais capitais, a marca está criando novos modelos de negócio, mais enxutos, para voltar a crescer em cidades na faixa de 80 mil habitantes.
“Já temos unidades em terminais rodoviários e hipermercados, e estamos começando a implantar lojas baseadas em contêineres”, explica Christiano Evers, diretor de comunicação e marketing da Jin Jin. A primeira fica em Londrina, no Paraná.
O cardápio é reduzido, com pratos executivos para o almoço e investimento mais enxuto: uma loja de shopping não sai por menos de R$ 500 mil (mais o ponto), contra R$ 300 mil a R$ 350 mil do contêiner.
Para não ficar restrita às inaugurações de centros comerciais, a Divino Fogão também vai oferecer um modelo de negócio diferenciado. São restaurantes de rua, em municípios que tenham em média 200 mil habitantes.
“Temos um número enorme de cidades dessas proporções. É um mercado de grande possibilidade de expansão para todas as redes”, diz Varela.