Como a organização em Squads têm ajudado essas empresas a serem cada vez mais rápidas, adaptáveis e eficientes.
Conversava com amigos em um desses eventos de startups e perguntei a eles se era o único a ter dificuldade para encontrar bons profissionais de marketing. Dois deles concordaram comigo, mas um terceiro me olhou nos olhos e, com um sorriso cínico, disparou:
“Não tenho mais este tipo de problema porque “matamos” o departamento de marketing lá da empresa.”
Sim, ele era um espertalhão. Sim, aquilo era uma provocação. Mesmo assim, resolvi entrar no jogo. Ele então explicou que havia promovido uma transformação radical em seu organograma e que o departamento de marketing como conhecíamos havia deixado de existir. Parecia uma grande jogada de marketing de uma empresa que não tinha mais departamento de marketing, mas segui adiante naquela conversa.
O eixo central da transformação, segundo ele, estava em um redesenho do organograma com objetivo de tornar a empresa mais rápida, adaptável e eficiente. Inspirado pelas chamadas práticas ágeis, a empresa estava se reorganizando em pequenas células conhecidas como squads. O Spotify, serviço de música digital sueco, havia popularizado esse conceito há pelo menos cinco anos, mas era a primeira vez que ouvia que uma empresa brasileira o aplicava com tanto afinco.
De maneira simplificada, squads são pequenos times multidisciplinares que têm objetivos específicos, autonomia para tomar decisões, contato direto com stakeholders e, por tudo isso, se movem rapidamente.
Podemos dizer que uma das principais funções do time de marketing de uma startup é gerar leads e convertê-los em clientes. Uma squad poderia ter estes mesmos objetivos. A diferença é que ela seria formada por profissionais de vários departamentos da empresa como Produto, Canais, Tecnologia, Design e Business Intelligence, por exemplo. Essa composição multidisciplinar lhe dá uma enorme vantagem competitiva porque permite que resolva seus problemas dentro de casa.
Enquanto o marketing tradicional precisa acionar Produto/TI e esperar na fila caso queira fazer um teste com o site, a squad simplesmente avança porque já tem Produto e TI dentro do time. E isso a torna muito mais veloz.
Por ter autonomia para tomar suas decisões, uma squad funciona quase como uma mini-startup. Ela levanta suas hipóteses, promove testes, aprende com eles e adequa sua rota de acordo com os resultados dentro lógica do Lean Startup. E isso a dá uma enorme capacidade de adaptação e evolução.
Squads são pequenas por natureza, não costumam ter mais de 10 pessoas. Esse time senta-se junto, respira os mesmos problemas e compartilha da mesma missão. Como as discussões demandam profundidade e o processo é veloz, squads costumam ser formadas por profissionais com perfil de especialistas. Isso faz com que as decisões sejam cada vez mais baseadas em dados, o que tira o “achismo” e as deixa mais eficientes.
O desafio de um modelo como este está em superar a cultura hierárquica que domina a gestão dos negócios na maior parte das empresas. A filosofia ágil é de autonomia, descentralização, transparência e evolução constante. Se isso não estiver claro para a liderança e para o time que integrará o modelo, isso não vai funcionar.
A Youse, plataforma de venda de seguros online da Caixa Seguradora, conhece bem essa dinâmica porque nasceu estruturada em squads. De acordo com Loren Monteiro, head de produtos da Youse, o modelo funciona porque a estruturação dos times está alinhada à uma filosofia de trabalho. Já na contratação, por exemplo, o foco está em trazer pessoas com espírito empreendedor, que estejam preparadas para lidar com a autonomia que o modelo propicia. “Em apenas 6 meses, colocamos a plataforma de vendas no ar“, explica Loren, evidenciando uma das vantagens deste modelo. Ela explica ainda que a principal diferença de mindset é que nas squads, o foco da liderança deve ser de na definição de um problema e não na solução. “É a squads quem vai resolver”, explica. “O maior desafio está em garantir um alinhamento macro entre todas as iniciativas”, completa a executiva. A Youse hoje conta com seis squads. E está muito feliz com o que vem construindo.
Ah, aquela startup do começo da história realmente não tem mais departamento de marketing de maneira formal. Mas as funções desempenhadas pelos profissionais deste time ainda existem, espalhadas por várias squads. O mesmo acontece com outros departamentos da empresa. Para eles, vem dando muito certo. Com ou sem squads, o importante é entender qual a estrutura de times que mais se traduza em ganhos de eficiência e agilidade para o seu negócio.