Em cidades do porte de Ribeirão Preto (SP), com mais de 500 mil habitantes, a projeção da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é de que a tecnologia chegue efetivamente no final de julho de 2025.
O leilão do 5G, a nova geração da internet móvel, abre expectativas para as novas aplicações tecnológicas possibilitadas pelas frequências a serem utilizadas no Brasil.Mas, do ponto de vista prático, ainda pouco se sabe sobre quando a maior parte das pessoas de fato vai começar a sentir mudanças significativas no dia a dia, especialmente fora das capitais.
Em cidades do porte de Ribeirão Preto (SP), com mais de 500 mil habitantes, a projeção da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é de que a tecnologia chegue efetivamente no final de julho de 2025. Mas, para a maior parte da região em seu entorno, com centros urbanos com menos de 200 mil habitantes, essa espera pode se estender até 2029.
Segundo Eduardo Martins Morgado, professor de computação e especialista em inovação na Unesp de Bauru (SP), a chegada do 5G deve ser mais percebida pela maior parte dos usuários, de fato, com a conectividade em aparelhos eletrodomésticos até então não conectados, como máquinas de lavar. Além disso, será possível obter alta qualidade em reprodução de imagens, por exemplo, em smartphones com menor capacidade de processamento.
Mas isso depende, segundo ele, de questões de mercado, com o interesse pelas empresas em produzir novos equipamentos que interajam com a rede, além da ampliação de torres de transmissão para garantir o alcance dessas frequências.
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“Com o 5G, os engenheiros poderão projetar um celular cujo poder de fogo não precisa ser tão poderoso, mas vamos depender de duas coisas: primeiro que o fabricante faça, segundo, precisa ter a rede pronta”, afirma.
O leilão do 5G foi concluído na semana passada e movimentou R$ 47,2 bilhões na aquisição dos diferentes lotes nacionais e regionais de frequência com prazo de outorga — ou seja, o direito de exploração das faixas — de até 20 anos.
Ao longo desta reportagem, você vai entender um pouco mais sobre a tecnologia 5G pelos seguintes tópicos:
1. O que é o 5G e como funciona?
O 5G é considerado a quinta geração da internet móvel e tem a mesma base da terceira e quarta gerações, com transmissão por rádio frequência. A tecnologia, já disponível em países como Estados Unidos, Suíça e Japão, funciona com diferentes faixas que atuam como avenidas para a transmissão de dados. As frequências ofertadas no leilão no Brasil variam entre 700 MHz (megahertz) e 26 GHz (gigahertz).
“O 5G simplesmente é um aumento de frequência na linha que já usa o 4G. Tecnicamente, toda vez que você aumenta a frequência você tem um beneficio técnico: você consegue transmitir mais dados, você consegue mais qualidade, porém o alcance diminui”, explica Morgado.
2. O que muda com o 5G e onde será utilizado?
Além de ampliar a cobertura 4G no país, a implementação da tecnologia 5G vai permitir melhorar a velocidade e o tempo de resposta nas conexões, o que abre caminho para uma série de possibilidades em termos de aplicações.
Na telefonia móvel, segundo Morgado, isso pode permitir que pessoas não precisem ter aparelhos de maior capacidade para que se beneficiem da melhoria na qualidade em imagens e transmissão de arquivos.
“Hoje você depende do poder de fogo do seu smartphone. No 5G, eu não preciso, posso ter um chip simples, porque quem faz o trabalho é a central. Essa é a mudança fundamental”, explica o professor da Unesp.
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Além disso, o 5G vai viabilizar a chamada internet das coisas (internet of things ou IoT), que consiste em conectar aparelhos do dia a dia, como eletrodomésticos, e permitir que eles possam transmitir dados para diferentes finalidades.
“O que vai acontecer é que dispositivos e coisas que não se conectavam passarão a ser conectados. Vou dar um exemplo. A sua futura máquina de lavar roupa pode ter um chip que é capaz de conversar com a [rede] 5G. Por que um chip vai ser barato a ponto de estar em uma máquina de lavar? Porque o 5G é muito rico, não há necessidade de processamento local.”
As aplicações podem se estender para os carros autônomos e para o mundo da telemedicina, com mais confiabilidade nas cirurgias feitas remotamente. A longo prazo, essas mudanças podem ser ainda maiores, segundo Emerson Urbano Seiji Uekama, professor dos cursos de automação, eletrônica e eletrotécnica da Escola Técnica (ETEC) José Martiniano da Silva, do Centro Paula Souza, em Ribeirão Preto.
“A quantidade de aparelhos conectados ao mesmo tempo será um absurdo, abrindo brechas por exemplo para a geladeira te avisar que está acabando algum produto ou vencendo, soltar lista de compras, já direcionando para o mercado conveniado”, diz.
Nas cidades, a conectividade de sensores vai permitir medições de variáveis como pressão, temperatura, fluxo de veículos e de pessoas, diz Uekama.
“E todas estas informações serem legadas a um inteligência artificial que poderá aumentar o fluxo de passagens de carros alterando o tempo de abertura e fechamento de semáforos, indicando uma construção de passarelas para uso de pedestres, indicando as pessoas através de mensagens que o clima pode mudar rapidamente, indicações de pontos de alagamento, montar rapidamente rotas para chegada de policia e bombeiros com informações sobre fluxo de automóveis.”
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3.O que falta para a tecnologia 5G funcionar?
Depois da conclusão do leilão de frequências do 5G, as operadoras devem começar a instalar a infraestrutura necessária para que a tecnologia chegue de fato aos usuários.
Em um primeiro momento, de acordo com Morgado, isso significa aproveitar as mesmas antenas hoje usadas para o 4G para a instalação de novos transmissores.
“Elas não desmancham, elas somam, por isso as antenas ficam cada vez mais cheias. O que eles vão fazer é utilizar a estrutura de antenas atual e acrescentar os transmissores de 5G. Isso significa que, em um primeiro momento, você vai ter uma cobertura um pouco menor, o alcance é menor. (…) Como as antenas devem ter sido ou têm um local muito bem escolhido, o miolo de Ribeirão Preto vai ser atendido, porém vai diminuir a amplitude. Se eu for para longe, vai diminuir um pouco o alcance”, diz.
Em função dessa perda de amplitude nas transmissões, novas torres deverão ser instaladas a médio e longo prazo pelas operadoras nos centros urbanos para que a rede tenha um alcance maior.
“Tudo vai depender das empresas, as instalações e a montagem da rede e onde ele será o seu maior foco. A rede depende das instalações das novas antenas. Elas poderão ser instaladas paralelamente com as antenas já existentes”, afirma Uekama.
Além dos investimentos, que podem passar de R$ 1 milhão por torre, de acordo com Morgado, isso passa também por procedimentos burocráticos, como questões urbanísticas, com a definição de locais adequados, características topográficas e licenciamentos. “Quanto maior a geografia, maior o seu problema”, diz o professor da Unesp.
Em âmbito nacional, a instalação das estações já está regulamentada por textos como a Lei das Antenas, desde 2015, mas os municípios têm autonomia para autorizar ou não esses projetos, a depender das regras locais.
Para tentar acelerar a chegada do 5G no Brasil e reduzir a burocracia em torno disso, a Anatel estabeleceu boas práticas para os municípios, entre elas um modelo de legislação local unificada com normas gerais urbanísticas para instalação das estruturas.
Em Ribeirão Preto, isso está regulamentado desde 2019 pela Lei 2.990. Entre as disposições gerais, está a previsão para que o limite máximo de emissão de radiação é o mesmo estabelecido pela União, além de recuos mínimos com relação a imóveis vizinhos para os diferentes padrões de torres a serem instaladas, bem como os alvarás necessários a serem solicitados e o modelo de fiscalização.
A Anatel também orienta os municípios a ter uma entidade responsável que centralize informações sobre obras civis autorizadas, com locais abrangidos pelos projetos e datas de operação.
Além disso, a agência reguladora pede que os municípios facilitem o licenciamento para empresas de telefonia que firmarem acordos de compartilhamento de infraestrutura, o que não só reduz a burocracia no âmbito municipal como a quantidade de estações a serem instaladas na cidade.
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Do ponto de vista das indústrias, é preciso também que elas comecem a impulsionar a fabricação de equipamentos que interajam com o 5G e que estejam acessíveis a um maior número de pessoas. Hoje, os celulares que já suportam essa rede custam a partir de R$ 1,7 mil no Brasil.
“A próxima esperança que a gente precisa é que comecem a sair produtos, eletrodomésticos, dispositivos de segurança etc que já venham com um chip 5G”, afirma Morgado.
4. Quando a tecnologia 5G começa a funcionar?
Se todas as condições do mercado e burocráticas forem favoráveis, a expectativa é de que o 5G comece a funcionar efetivamente em cidades como Ribeirão Preto a partir do final de julho de 2025, segundo o cronograma da Anatel.
No mesmo planejamento, outras cidades da região com mais de 200 mil habitantes, como Franca (SP), devem se beneficiar dessa tecnologia a partir de julho de 2026.
Já para a maior parte dos municípios da região, com menos de 200 mil habitantes, essa espera pode se estender até 2029.